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Sinopse

Estilista de sucesso que conquistava o mundo com suas criações, Zuzu Angel passa a ser uma mãe desesperada depois que o filho desapareceu por força da ação dos militares então no poder durante a ditadura no Brasil.

Crítica

Uma costureira, do interior de Minas Gerais, desquitada, que sozinha consegue se tornar uma referência internacional da moda brasileira, realizando desfiles em Nova York e vestindo personalidades como as atrizes Joan Crawford e Kim Novak. Somente por esta trajetória, Zuleika Angel Jones já mereceria um filme. Mas o diretor Sérgio Rezende queria mais, uma vez que sabia que havia o que ser contado além desse mundo de holofotes e estrelato. Afinal, estava aí a base de Zuzu Angel, que concentra seu foco na grande reviravolta que a vida desta mulher enfrentaria depois, quando, já famosa, teve seu filho, militante do movimento estudantil, preso e assassinado pela ditadura militar. A partir de então dá início a uma luta pelo direito de reaver o corpo do rapaz, numa batalha que durou cinco anos, encerrada com sua própria morte num acidente de trânsito que até hoje é considerado suspeito.

Rezende, cineasta reconhecido pelo seu talento e pela preferência por cinebiografias – como comprovam O Homem da Capa Preta (1986), Lamarca (1994) e Mauá: O Imperador e o Rei (1999) – preferiu em Zuzu Angel não investir no convencional, evitando contar de forma linear o rico caminho de ascensão e queda de Zuzu, mas, sim, se atendo a um período específico de tempo – os últimos cinco anos de sua vida. Não que isso implique em ignorar como ela chegou até aquela posição – vislumbres em flashbacks estão apropriadamente espalhados pela narrativa, oferecendo uma visão completa, porém não didática, da situação. Se o roteiro, co-escrito pelo diretor em parceria com Marcos Bernstein, é um dos pontos altos, isso se deve ao cuidado que ambos tiveram em transformar esta obra em uma opção atraente para uma ampla fatia de público. Há, é evidente, a história de uma mulher corajosa, mas também temos um emocionante conto de amor entre mãe e filho e, por fim, um intrincado thriller político. Estas realidades co-existem pacificamente, oferecendo uma multiplicidade interessante de significados e pensamentos.

Outro mérito de Zuzu Angel é o impressionante elenco reunido, que coloca lado a lado alguns dos mais destacados nomes do atual cinema brasileiro. Patrícia Pillar estrela de O Quatrilho (indicado ao Oscar em 1995), é a grande base. Ela aparece em cerca de 90% das cenas e literalmente carrega o filme nas costas. Sua opção em não transformar a interpretação em algo demasiadamente dramático (“Zuzu não fez disso um drama, não ficava pelos cantos chorando e se sentindo uma vítima, ela vez disso uma luta!”, afirmou a atriz em uma entrevista na época do lançamento do longa) é sábia e foge da obviedade. No entanto, é impossível não se emocionar com o encontro final entre os dois, uma licença poética que agrega graça e simpatia. Pillar tem seu melhor trabalho nas telas aqui, uma oportunidade que soube aproveitar com cuidado e inteligência.

Daniel de Oliveira, que havia sido revelado apenas dois anos antes como protagonista de Cazuza: O Tempo Não Pára (2004), dá aqui outra amostra do seu talento superlativo. Alternando carinho, garra e sensibilidade, ele alterna com sabedoria os dois lados dessa personalidade – o filho atencioso e o jovem idealista – com igual atenção. Os demais atores reunidos, apesar de possuírem poucas possibilidades em cena, também conseguem fazer bom uso do restrito destaque que recebem, como Luana Piovani (ótima como Elke Maravilha) e Alexandre Borges (bem distante do visual folgado que adotou em comédias como Gatão de Meia Idade, 2006, lançado no mesmo ano). A direção de arte e figurino (foram confeccionados mais de 500 modelos diferentes para vestir o elenco principal) são verdadeiros achados, assim como o trilha sonora de Cristóvão Bastos e a estudada fotografia de Pedro Farkas.

Percebe-se um cuidado fundamental em Zuzu Angel do início ao fim, e o respeito com que esta importante história é abordada termina por justificar o empenho dedicado. Se o público sentir alguma dificuldade no início – afinal são outros tempos, acontecimentos diferentes e falsamente distantes – logo essa sensação é deixada de lado, e, principalmente na metade final, o arrebatamento será quase incontrolável. Zuzu foi uma mulher que apesar dos fatos não se deixou levar pelas circunstâncias – ela as fez, incansavelmente e de coração aberto. O destino pode ter lhe sido cruel, mas Rezende e Pillar são profissionais competentes o suficiente para resgatarem esta mensagem e trazê-la à tona numa época em que a mesma se faz tão necessária. Este é um filme para calar fundo, bater forte e provocar sentimentos e reflexões, intento que é felizmente alcançado com grande efeito.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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